quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

A casa sem Reboco

 
A fundação do bem-estar se ancora na satisfação das necessidades básicas, como estar bem alimentado, ter uma cama quentinha para dormir, estar com saúde, sem dor ou outro tipo de mal-estar. Mas assim como uma casa não está pronta apenas com as fundações e as paredes levantadas, precisamos de mais que isso para nos
sentirmos felizes. Assim como precisamos de portas e janelas, precisamos ter liberdade para fazer nossas escolhas.Ter a liberdade de fechar a porta quando nosso interior diz não.
 
Precisamos de uma certa previsibilidade, assim como a janela nos permite ver se está chovendo lá fora ou não, nos tranquiliza poder saber o que vem por aí para nos prepararmos adequadamente, ou mesmo para planejarmos nossas próximas ações. Tanto como a casa precisa dos acabamentos, como reboco  e tinta na parede, ou azulejos conforme for o caso, precisamos dos amigos para conversar e nos fazer companhia. 
 
Sim, porque há pessoas que mais do que simplesmente trazer alegria e carinho para nossa vida, nos acrescentam qualidades, chamam nossa atenção para coisas que não tínhamos percebido e mesmo permitem que aspectos dormentes da nossa personalidade aflorem.
 
As pessoas solitárias são como as casas com paredes sem reboco, estão incompletas. Pode ser até que os moradores da casa se acostumem com essa incompletude, afinal o ser humano se acostuma com quase tudo, mas o solitário está incompleto.
 
Pode até ser feliz, mas não é 100% da pessoa que poderia ser.​

segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Aprender com os "Idiotas"

Uma das pulsões do ser humano é a de buscar conhecimento. Todos temos essa pulsão, ainda que não nos demos conta disso.

O que nos diferencia é o ponto onde atingimos a saciedade na busca por conhecimento. Alguns se contentam com o nível  de conhecimento que os permite resolver um problema de um dado momento, ou que os permita entender algo que os deixou intrigados. Mas há várias camadas de conhecimento, do nível micro focado à situações pontuais ao nível macro que ajuda uma pessoa a construir princípios organizadores para sua vida ou para o seu entendimento das coisas que acontecem no mundo.

As pessoas só podem seguir um caminho de cada vez. E há recursos que são limitados, como o tempo e as oportunidades que se apresentam. Por essas razões, as pessoas precisam antes mesmo de começar a trilhar um dado caminho, definir  objetivos e prioridades, para não correr o risco de empreender esforços no   atingimento de metas intermediárias que pouco contribuem para chegar nos objetivos mais trabalhosos e distantes, ou que pouco se relacionam com as prioridades, apenas são manifestações de vontades efêmeras. Sim, porque as pessoas não agem sempre de forma racional, somos guiados pelas emoções, desejos, vontades e nem sempre essas dimensões humanas se alinham com as construções intelectuais como planos, metas, objetivos e prioridades definidos através de cuidadosa reflexão.

"As coisas grandiosas são feitas pelo acúmulo de  uma série de pequenas coisas" 
                                                                                                   Vincent Van Gogh

Fazendo uma analogia com o ato de caminhar, o conhecimento produz um mapa do terreno onde andaremos, os objetivos são os pontos pelos quais queremos passar, as prioridades são a parte da carga que levamos que não queremos jogar fora se precisarmos aliviar o peso para superar obstáculos, e as formas de caminhar são as soluções que cada um emprega para se movimentar.
Há gente com quem você conversa sobre o mapa, características do terreno e ela responde com o que ela escolheu para si mesma em termos de soluções. Como dizer " é prudente escolher um caminho com cursos de água potável pelo caminho para encher os cantis, e nem sempre este caminhar será necessariamente o mais curto" e a pessoa "eu ando olhando para baixo pois assim posso achar frutas caídas pelo chão" ou "isso para mim não é problema, eu tenho um cantil de 4 litros!" ignorando completamente que há outras 20 pessoas caminhando junto com ele na jornada e nem todos tem um cantil com boa capacidade.


Nem todo mundo vai entender os conceitos quando você entabula uma conversa sobre princípios organizadores. Há gente que acha idiota quem não vê uma coisa que ele próprio vê como óbvio, mas a verdade é que os "idiotas" vêem facetas diferentes do que a maioria vê.  Uma faceta a mais contribui para que uma pessoa inteligente construa um nível mais abrangente de percepção da realidade e o relacionamento dinâmico entre conceitos opostos. Sim, porque não há verdades absolutas, que tenham validade universal e forneçam sempre o melhor instrumento para resolver uma situação/problema.

Quem ri daqueles que considera idiota não se dá conta de que os mais inteligentes
percebem uma oportunidade de aprendendizado por trás daquilo que o idiota está dizendo. Quando há abertura para o questionamento das próprias certezas, e uma mente exploradora que se aventura no teste de hipóteses novas movida pela busca do conhecimento, insights que de outra forma não seriam possíveis podem acontecer , coisa que as mentes arrogantes rejeitam de pronto. 
É fácil identificar pessoas assim, são aqueles que dizem "nem li e nem lerei", ou que não termina de ouvir o interlocutor antes de formar uma opinião e quem vê não sabe o que ele sabe de forma esnobe.

Talvez essas pessoas não tenham se dado conta de que podemos aprender coisas novas quando nos lançamos à empreitada de ensinar alguém.

Para terminar, com uma faceta diferente das que abordei, trago aqui a piada do idiota e da moeda.

Conta-se que numa cidade do interior um grupo de pessoas se divertia com o idiota da aldeia. Um pobre coitado, de pouca inteligência, vivia de pequenos biscates e esmolas.
Diariamente eles chamavam o idiota ao bar onde se reuniam e ofereciam a ele a escolha entre duas moedas: uma grande de 400 RÉIS e outra menor de 2.000 RÉIS. Ele sempre escolhia a maior e menos valiosa, o que era motivo de risos para todos.
Certo dia, um dos membros do grupo chamou-o e lhe perguntou se ainda não havia percebido que a moeda maior valia menos.
- Eu sei, respondeu o tolo. "Ela vale cinco vezes menos, mas no dia que eu escolher a outra, a brincadeira acaba e não vou mais ganhar minha moeda”.